sábado, 1 de março de 2014

Punhos de poeta

(Beto Takai)

No nó da minha garganta
Dei um laço;
E pintei de colorido
O meu sangue preto e branco.
Quando olhei pra trás
(e nesse instante houve música)
Senti que cada gota
Desaguava no oceano do meu coração
E minha mente livre
Pôde dizer:
Cada rabisco é um universo
No meu punho de poeta

O mundo dentro de uma caixa de Barbie

(Beto Takai)

Você está feia!
Magra!
Gorda!
Grande!
Pequena!
Falava uma pessoa que escondia o rosto
Com tantas cores
Que não consegui distiguir
O que era pele,
Tecido sintético
Sentimento.

Templos do tempo



(Beto Takai)

Brilha a alma
Coberta pelo o universo.
Sou um átomo
a mais
Em infinito tecido.
O que muda?

Ouvi gritos vindos de uma igreja,
Agora eles se perdem nas casas das estrelas:
As lamúrias nem alcançam
A falsa imagem do astro no céu negro.

"Levanta-te e anda"
Mas não corre para o engano
Que a vida é mais complexa
(doce/cruel)
Fora dos muros dos templos
Que cercam os olhos
Cheios de tempestade.

sábado, 21 de setembro de 2013

Para Caê

(Beto Takai)

Quando teus acordes
Que vibram em meu violão
Encontram com o rio que transborda dos meus olhos
Minha história
E dessa gente.
"Existirmos, a que será que se destina?"
Não existe prêmio suficientemente grande
Para aquele trovador
Que não deixa secar no tempo
Sangue seu e de sua gente.
Tua voz rasga uma paz perturbadora
Trovão de Santo Amaro
"Vamos comer"!
E que exista sempre corpo
Caetano.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Quando penso que canto

(Beto Takai)

Quero cantar
Juntar mistérios, entre bemóis, lençóis
Fazer chuva
Pra lavar o sal, a lágrima
Quando seu olho transbordar

Quero cantar
E quando o violão gemer, consolar
Fazer amor
Pra alegrar a cidade
Alumiar os becos solidão

sábado, 29 de junho de 2013

Poema Encantado

(Beto Takai)

Devagar a luz entrou pelos panos
O vento sacudia o brilho da lua
Que repousava
(ascendendo, apagando)
Na sua face dourada.

Depressa levantou,
Rasgando as cobertas,
E viu o trem passar:
Casas pobres e brancas
Pássaros roucos
E a vida ali tão pequena,
Tão firme.

Nada foi em vão.
Dançamos imensos, submersos
Naquele imenso salão.
Quando voltou-me a face
Já não era rua, trem, nem eu:
Era fumaça de um cigarro pobre,
Lágrimas presas
Suor.

- Hoje tem gargalhada!
Escultamos lá fora.
O caminho do trem: fogo, malabares, magia
(cores)
Ainda com tecidos rasgados
Acompanhou as tentações da felicidade
E preencheu a gota que faltava,
A travessia do rio
Em meus olhos.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Quarta parede: silêncio

(Beto Takai)

Gosto de sentir teu hálito
Sem toda essa burocracia.
E de ouvir teus pensamentos confusos
Quando eles são tão profundos,

Que a própria existência muda.

De mãos dadas e pelos enlaçados
(profundos)
Quebremos a quarta parede
De nosso palco.
Vivamos o que de verdade existe
O que move o infante soldado
Para o front de batalha.

Guerreemos em um céu-inferno nublado
Espíritos a mostra,
Onde cada segundo é mais valioso
Que os dias,
Que o tempo,
Que a vida.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Quixote, menino

(Beto Takai)

Queria entender o propósito
Desse cavaleiro louco, quixote,
Que em dias frios, barulho de chuva
Foge de mim.
Teu lugar é ao meu lado, cavaleiro.
Nossos planos para derrotar
Os terríveis moinhos de vento,
Agora não estão tão claros,
Mas estão vivos me meu coração.
São tantos os caminhos e as batalhas
Por que se render a essa?
Por que essa ferida ainda dói?
Os caminhos são tão densos e loucos
Nessa vida que vivemos,
Que não temos tempo para feridas
A não ser para lembrar,
Das batalhas que vencemos.
Existe um universo ao nosso redor
Que nos espera com muitos outros moinhos
E tantas outras batalhas,
Não me deixe lutar sozinho
Não consigo sem você,
Meu Quixote menino.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Os fantasmas que assombram os católicos e os monstros que eles geraram




Roberto Viana de Oliveira Filho*

O objetivo desse pequeno ensaio é informar (a quem interesse ser informado) alguns aspectos da religião católica que não são bem elencados tanto por seguidores da doutrina como por quem critica as suas ações. Quero deixar claro em primeiro lugar, que de forma alguma esse texto tem a pretensão de incitar ódio ou discriminação para com os praticantes da religião supracitada, contudo, estou me valendo do direito de crítica histórica que me assiste para analisar a luz da historiografia e de fontes que tenho posse como a religião católica causou feridas, elaborou alguns remédios e criou grandes monstros para a humanidade, e vem usando essa mesma política.
O primeiro fator que gostaria de analisar é a Inquisição. É um grande tema debatido por teólogos e usado como artifício para criticar a religião. É preciso entender primeiramente que existiram “várias inquisições” e que elas agiram de formas diversas para principalmente coagir, eliminar, suprimir, desestruturar aqueles que eram contra os princípios da Cristandade. Ronaldo Vainfas em seu maravilhoso “Trópico dos Pecados: moral sexualidade e inquisição no Brasil” faz uma análise detalhada sobre a atuação da inquisição. Destaquei um trecho do seu livro que considero bastante elucidativo para compreendermos como funcionava a ‘teia do inquisidor’:

Empenhado em conter o avanço das heresias no século XIII, especialmente o catarismo no sul da França, o papa Gregório IX delegou a Domingos de Gusmão a tarefa de organizar um tribunal religioso encarregado de descobrir e inquirir os apóstratas do cristianismo, remetendo aos poderes civis a execução dos culpados de heresia. Assim nasceu a mais estruturada das Inquisições medievais, controlada pelos dominicanos, subordinada ao papado e responsável por inúmeras perseguições aos cátaros, “seguidores do livre espírito”, e a outros hereges. E nasceram, por outro lado, os modernos procedimentos judiciários calcados no segredo do processo, na institucionalização da tortura como meio de arrancar confissões, no anonimato das testemunhas, e outros mecanismos exaustivamente detalhados aos manuais de Bernardo Gui, Practica Inquisitionis, e de Nicolau Eymerich, Directorum Inquisitorum, ambos datados do século XIV. (VAINFAS, 2010, PAG. 247)

Esse trecho é muito valioso no intuito de esclarecer e rebater os argumentos de muitos religiosos que afirmar que “a inquisição não matou tantas pessoas como se costuma falar nas aulas de cursinho pré-vestibular”. Essa instituição que teve início na idade média, mas que alcançou sua força na idade moderna matou sim, milhares de pessoas. Acontece que, como elencado por Vainfas, a igreja remetia aos poderes civis a execução das penas, o chamado “braço secular”. Portando, são realmente menores os números de registros de pessoas levadas ao cadafalso nos arquivos inquisitoriais, haja vista que as penas eram executadas pelas autoridades civis.
A idade média carrega um preconceituoso estigma de “Idade das Trevas”, em contraposição ao período subsequente, um período iluminado, livre do obscurantismo causado pela mística religiosa, contudo, muitas transformações importantes da sociedade aconteceram no período; mudanças relativas à astronomia, genética, a estruturação das universidades. É importante salientar que muitas dessas mudanças ocorreram através de mentes engenhosas de padres católicos, ora, o conhecimento era proibido ou restrito aos demais.
Outro fator que me incomoda dentro da religião católica e que não é muito discutido dentro da instituição e fora dela, é aquele relativo ao machismo e ao preconceito tanto ao sexo feminino como as demais identidades de gênero: homossexualidade, lesbianeidade, travestis, etc.
Deterei-me primeiramente ao machismo, a diminuição da atuação do sexo feminino dentro da instituição. Não existe nenhum cargo de confiança organizacional que seja destinado a uma figura feminina; é impossível dentro da organização da instituição uma mulher tornar-se sacerdotisa ou que venha a ocupar cargos maiores como o de Papa. Isso revela o machismo embutido dentro da estrutura da Igreja, apesar de ter como um ícone de muita relevância a figura de Maria, é sempre enfatizado em homilias e pregações diversas o papel submisso da mulher em relação ao homem.
O movimento feminista e LGBTT vêm encontrando enorme dificuldade em lutar pelos direitos humanos de onde menos se espera: da própria igreja. Em tese, essa instituição deveria ajudar as pessoas a serem felizes e viver em paz e harmonia. Não é isso que está acontecendo. No dia 21 de dezembro de 2012, o atual papa Bento XIV (que tem um passado bastante obscuro, diga-se de passagem) convocou os católicos “à luta” contra o casamento CIVIL homossexual. Essa atitude pode gerar (já está gerando, essa não é a primeira declaração desse tipo) uma intensa onde discriminatória que não obstante gera mortes e perseguições.
O meu intuito ao elaborar esse texto é mostrar que todos nós temos o direito de crer naquilo que nos convir, contudo, quando essa crença começa a atrapalhar a vida os DIREITOS HUMANOS de outras pessoas, como a VIDA, é essencial que haja uma discussão intensa na sociedade e que esses líderes revejam a sua postura ética e moral, para que o período em que vivemos não se transforme, verdadeiramente, em uma Idade das Trevas.



* Professor de História na rede particular e pública de ensino, pesquisador registrado no Diretório Nacional de Pesquisa http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/detalheest.jsp?est=5746682686852335

sábado, 15 de setembro de 2012

Assobio

(Beto Takai)

Andei assobiando solos de guitarra por você
Sendo elétricos sons gemidos
Minha boca grudada na psicodelia do teu som
Minha vida em Dó
Nosso sexo em Fá
Curvas em wonderland
Mágica para sobrevoar

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Lixo reciclável


(Beto Takai)

Eu fico pelos quatro cantos
(todas as salas)
Dizendo lamentos
Falando sambas
Esperando a noite chegar
(sumir, dormir)
Me acho cada dia mais feio
Mais forte.
Tenho vontade
De agarrar em um meteorito
(como se passasse algum)
E ir embora para o planeta Melancolia.
E tem você: ponto de partida para o tudo
Dentro de mim
E nem preciso mais sonhar
Por que tudo de mágico
E incrível
Vivo do teu lado.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Sobre a noite estrelada



É engraçado a força que as coisas parecem ter
Quando elas precisam acontecer

Uma mesa de bar, um homem sentado, uma folha velha de caderno em suas mãos. As horas são tão quentes e tão frias a cada segundo nesse dia in-ter-mi-ná-vel. Ontem ele não dormiu bem; não que ele dormisse bem todos os dias; mas naquele dia ele teve estranhos e repetitivos sonhos com dois velhos e uma espera interminável por algo ou alguém que ele (por algum motivo) odiava. Com todas as suas forças, odiava. Acordava: água com açúcar, depois hipnóticos não-benzodiazepínicos, ainda antidepressivos sedativos. Mas nada parecia acalmar ou modificar a insistente manifestação do seu inconsciente. Foi quando às 4:30 vestiu um elegante sobretudo comprado em um brechó de Paris, lavou os olhos, partiu para o bar de sempre.
Estamos no ponto inicial: Uma mesa de bar, um homem sentado, uma folha velha de caderno em suas mãos. A folha seria para qualquer insight que por ventura ele tivesse. Era escritor. Foi quando ele olhou para o lado e reconheceu uma réplica muito convincente de “Noite Estrelada sobre o rio Rhône” de Van Gogh. Sentiu que o seu sonho e o quadro misturavam-se de forma assustadora. O casal de velhos, o rio, a espera odiosa. Sentiu que cada luz que o rio refletia era um pensamento in-ter-mi-ná-vel. Contudo, em um dado momento sentiu algo que não esperava e que não estava relacionada com o sonho ou com Van Gogh. Uma mão escorregou sobre a sua. Ouviu um sussurro: “eles também me assustam”. Olhou, sua visão saiu de foco por alguns segundos até concentrar-se na realidade dos lindos olhos cor de mel: “eu tenho ódio da espera deles”.
- Não é bom alimentar esse sentimento de ódio, homem do sobretudo.
- Estou tentando me livrar, homem dos olhos cor de mel.
Os homens sem muita demora descobriram o nome um do outro, entre tantas manchas azuis da noite estrelada, cerveja, Calcanhotto ao fundo. Conversaram entre goles, saliva, sonhos, imaginação e tudo aquilo que dois homens bonitos, interessantes poderiam dialogar. Certamente que encontram mil pontos em comum, astros, búzios, noites, tempestades, namoro: tudo entrelaçado entre a poesia e a nostalgia daquele encontro. Calcanhotto: pra quê querer saber que horas são? Se é noite ou faz calor, se estamos no verão, se o sol virá ou não... Uma moto vermelha encosta no bar, já são quase seis. A voz da mulher que desce da moto diz: “Sobe logo, não me deixa só por tanto tempo”.
O homem de sobre tudo odiava aquela mulher também, assim como odiava a pessoa da espera no quadro de Van Gogh. Os olhos cor de mel deixaram escapar uma lágrima e o barulho do cano de escape da moto misturava-se com os soluços da boca cor de romã, dos olhos cor de mel.
O sol desponta e não há mais motivo para usar um sobretudo. O que antes era coberto por um tecido de cor indecifrável, dava espaço a um corpo belo. Não esse belo de horas dedicadas à academias e produtos light, mas uma beleza que traduzia os primeiros suspiros da manhã: leveza, orvalho, lágrimas, bocejo. O corpo guardava marcas da noite anterior. Quem era aquela mulher? Por que os olhos cor de mel verteram lágrimas? Onde estava a força do homem de sobretudo que deixou aquela boca sair aos soluços sem provar o provável gosto doce/ácido dos seus lábios? Era um enigma que preenchia o seu corpo matutino e que parecia durar.