Roberto Viana de Oliveira Filho*
O objetivo desse pequeno ensaio é
informar (a quem interesse ser informado) alguns aspectos da religião católica
que não são bem elencados tanto por seguidores da doutrina como por quem
critica as suas ações. Quero deixar claro em primeiro lugar, que de forma
alguma esse texto tem a pretensão de incitar ódio ou discriminação para com os
praticantes da religião supracitada, contudo, estou me valendo do direito de
crítica histórica que me assiste para analisar a luz da historiografia e de
fontes que tenho posse como a religião católica causou feridas, elaborou alguns
remédios e criou grandes monstros para a humanidade, e vem usando essa mesma
política.
O primeiro fator que gostaria de
analisar é a Inquisição. É um grande tema debatido por teólogos e usado como
artifício para criticar a religião. É preciso entender primeiramente que
existiram “várias inquisições” e que elas agiram de formas diversas para principalmente coagir, eliminar,
suprimir, desestruturar aqueles que eram contra os princípios da Cristandade.
Ronaldo Vainfas em seu maravilhoso “Trópico
dos Pecados: moral sexualidade e inquisição no Brasil” faz uma análise
detalhada sobre a atuação da inquisição. Destaquei um trecho do seu livro que
considero bastante elucidativo para compreendermos como funcionava a ‘teia do
inquisidor’:
Empenhado em conter o avanço das
heresias no século XIII, especialmente o catarismo no sul da França, o papa
Gregório IX delegou a Domingos de Gusmão a tarefa de organizar um tribunal
religioso encarregado de descobrir e inquirir os apóstratas do cristianismo,
remetendo aos poderes civis a execução dos culpados de heresia. Assim nasceu a
mais estruturada das Inquisições medievais, controlada pelos dominicanos,
subordinada ao papado e responsável por inúmeras perseguições aos cátaros,
“seguidores do livre espírito”, e a outros hereges. E nasceram, por outro lado,
os modernos procedimentos judiciários calcados no segredo do processo, na
institucionalização da tortura como meio de arrancar confissões, no anonimato
das testemunhas, e outros mecanismos exaustivamente detalhados aos manuais de
Bernardo Gui, Practica Inquisitionis, e
de Nicolau Eymerich, Directorum
Inquisitorum, ambos datados do século XIV. (VAINFAS, 2010, PAG. 247)
Esse trecho é muito valioso no intuito
de esclarecer e rebater os argumentos de muitos religiosos que afirmar que “a
inquisição não matou tantas pessoas como se costuma falar nas aulas de cursinho
pré-vestibular”. Essa instituição que teve início na idade média, mas que
alcançou sua força na idade moderna matou sim, milhares de pessoas. Acontece
que, como elencado por Vainfas, a igreja remetia aos poderes civis a execução
das penas, o chamado “braço secular”. Portando, são realmente menores os
números de registros de pessoas levadas ao cadafalso nos arquivos
inquisitoriais, haja vista que as penas eram executadas pelas autoridades
civis.
A idade média carrega um preconceituoso
estigma de “Idade das Trevas”, em contraposição ao período subsequente, um
período iluminado, livre do obscurantismo causado pela mística religiosa,
contudo, muitas transformações importantes da sociedade aconteceram no período;
mudanças relativas à astronomia, genética, a estruturação das universidades. É
importante salientar que muitas dessas mudanças ocorreram através de mentes
engenhosas de padres católicos, ora, o conhecimento era proibido ou restrito
aos demais.
Outro fator que me incomoda dentro da
religião católica e que não é muito discutido dentro da instituição e fora
dela, é aquele relativo ao machismo e ao preconceito tanto ao sexo feminino
como as demais identidades de gênero: homossexualidade, lesbianeidade,
travestis, etc.
Deterei-me primeiramente ao machismo, a
diminuição da atuação do sexo feminino dentro da instituição. Não existe nenhum cargo de confiança
organizacional que seja destinado a uma figura feminina; é impossível dentro da
organização da instituição uma mulher tornar-se sacerdotisa ou que venha a ocupar
cargos maiores como o de Papa. Isso revela o machismo embutido dentro da
estrutura da Igreja, apesar de ter como um ícone de muita relevância a figura
de Maria, é sempre enfatizado em homilias e pregações diversas o papel submisso
da mulher em relação ao homem.
O movimento feminista e LGBTT vêm
encontrando enorme dificuldade em lutar pelos direitos humanos de onde menos se
espera: da própria igreja. Em tese, essa instituição deveria ajudar as pessoas
a serem felizes e viver em paz e harmonia. Não é isso que está acontecendo. No
dia 21 de dezembro de 2012, o atual papa Bento XIV (que tem um passado bastante
obscuro, diga-se de passagem) convocou os católicos “à luta” contra o casamento
CIVIL homossexual. Essa atitude pode gerar (já está gerando, essa não é a
primeira declaração desse tipo) uma intensa onde discriminatória que não
obstante gera mortes e perseguições.
O meu intuito ao elaborar esse texto é
mostrar que todos nós temos o direito de crer naquilo que nos convir, contudo,
quando essa crença começa a atrapalhar a vida os DIREITOS HUMANOS de outras
pessoas, como a VIDA, é essencial que haja uma discussão intensa na sociedade e
que esses líderes revejam a sua postura ética e moral, para que o período em
que vivemos não se transforme, verdadeiramente, em uma Idade das Trevas.
* Professor de História
na rede particular e pública de ensino, pesquisador registrado no Diretório
Nacional de Pesquisa http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/detalheest.jsp?est=5746682686852335
3 comentários:
... se fossem só os católicos..., analise melhor a história, professor..., e verá que todas as escolas, religiosas ou não..., são formadas por humanos..., e o único humano da história onde não se encontra erros..., claro..., só podia ser cruxificado!
... não precisa nem publicar...
Pois é Hélio, referi-me aos católicos nesse texto por conta dos recentes debates sobre religiosidade. Estou ciente da capacidade humana do erro, o que não nos impede de lutar para concertar
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