quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Sobre a noite estrelada



É engraçado a força que as coisas parecem ter
Quando elas precisam acontecer

Uma mesa de bar, um homem sentado, uma folha velha de caderno em suas mãos. As horas são tão quentes e tão frias a cada segundo nesse dia in-ter-mi-ná-vel. Ontem ele não dormiu bem; não que ele dormisse bem todos os dias; mas naquele dia ele teve estranhos e repetitivos sonhos com dois velhos e uma espera interminável por algo ou alguém que ele (por algum motivo) odiava. Com todas as suas forças, odiava. Acordava: água com açúcar, depois hipnóticos não-benzodiazepínicos, ainda antidepressivos sedativos. Mas nada parecia acalmar ou modificar a insistente manifestação do seu inconsciente. Foi quando às 4:30 vestiu um elegante sobretudo comprado em um brechó de Paris, lavou os olhos, partiu para o bar de sempre.
Estamos no ponto inicial: Uma mesa de bar, um homem sentado, uma folha velha de caderno em suas mãos. A folha seria para qualquer insight que por ventura ele tivesse. Era escritor. Foi quando ele olhou para o lado e reconheceu uma réplica muito convincente de “Noite Estrelada sobre o rio Rhône” de Van Gogh. Sentiu que o seu sonho e o quadro misturavam-se de forma assustadora. O casal de velhos, o rio, a espera odiosa. Sentiu que cada luz que o rio refletia era um pensamento in-ter-mi-ná-vel. Contudo, em um dado momento sentiu algo que não esperava e que não estava relacionada com o sonho ou com Van Gogh. Uma mão escorregou sobre a sua. Ouviu um sussurro: “eles também me assustam”. Olhou, sua visão saiu de foco por alguns segundos até concentrar-se na realidade dos lindos olhos cor de mel: “eu tenho ódio da espera deles”.
- Não é bom alimentar esse sentimento de ódio, homem do sobretudo.
- Estou tentando me livrar, homem dos olhos cor de mel.
Os homens sem muita demora descobriram o nome um do outro, entre tantas manchas azuis da noite estrelada, cerveja, Calcanhotto ao fundo. Conversaram entre goles, saliva, sonhos, imaginação e tudo aquilo que dois homens bonitos, interessantes poderiam dialogar. Certamente que encontram mil pontos em comum, astros, búzios, noites, tempestades, namoro: tudo entrelaçado entre a poesia e a nostalgia daquele encontro. Calcanhotto: pra quê querer saber que horas são? Se é noite ou faz calor, se estamos no verão, se o sol virá ou não... Uma moto vermelha encosta no bar, já são quase seis. A voz da mulher que desce da moto diz: “Sobe logo, não me deixa só por tanto tempo”.
O homem de sobre tudo odiava aquela mulher também, assim como odiava a pessoa da espera no quadro de Van Gogh. Os olhos cor de mel deixaram escapar uma lágrima e o barulho do cano de escape da moto misturava-se com os soluços da boca cor de romã, dos olhos cor de mel.
O sol desponta e não há mais motivo para usar um sobretudo. O que antes era coberto por um tecido de cor indecifrável, dava espaço a um corpo belo. Não esse belo de horas dedicadas à academias e produtos light, mas uma beleza que traduzia os primeiros suspiros da manhã: leveza, orvalho, lágrimas, bocejo. O corpo guardava marcas da noite anterior. Quem era aquela mulher? Por que os olhos cor de mel verteram lágrimas? Onde estava a força do homem de sobretudo que deixou aquela boca sair aos soluços sem provar o provável gosto doce/ácido dos seus lábios? Era um enigma que preenchia o seu corpo matutino e que parecia durar.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Pele de maresia

(Beto Takai)

de tentar tocar, ou tatear
me perco em tuas curvas.
elas me cegam 
entre pensamentos duvidosos
e a ressaca do amanhecer.
não deixe que morra na praia
a força do mar, 
que é limpa, grande, formosa
a lua que com seu movimento traz
a força para te tatear, tocar.



domingo, 10 de junho de 2012

Quem


(Beto Takai)

Quem fala com a alma, canta
E de cada canto uma cor
Tudo preenche: olhos, lágrimas, corpo, suor
Quem tem energia, dança
E de cada perna um risco
Nenhum barulho: mágica, roupa, gosto
Quem vem e vai, anda
E de cada estrela, um abraço
Deixa cair a luz: ascender, ir, voltar
Quem faz poema não rima, seduz
E de cada pensamento, tesão
Entre linhas e tinta: orgasmo, letra, solidão

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Dois "Josés"

(Beto Takai)

Somos dois Josés aqui, ali, acolá
Sem tinta nem pincel colorirmos
O mar de nosso suor
E de nossas poucas lágrimas.
Josés em cada esquina, rua bar
Olhos nos olhos, as vezes não.
Também humanos somos nós Josés
Amamos, fazemos amor-sexo, bobagem
Ser um José, ser dois
A vida inteira, todas as cores
Nessa estrada infinita.

domingo, 6 de maio de 2012

Entre nós. (Pontes)


(Beto Takai)

Entre, o tempo espera por nós:
Pode se acomodar no cimento do chão
Na madeira dos móveis
No perfume da comida
E das minhas roupas.
Entre eu e você:
Um céu e um mar de medos e ameaças.
Mas o que importa?
Existe uma ponte entre esses encalços:
O Amor.!?..
As pernas são firmes e andam em par
Um passo, outro, um tropeço.
Eu não sei se você sabe
Mas queria que entendesse
Que essa cratera fica maior
A distância também
E os olhos mareados de lágrimas
Cada centímetro
Uma queda.

sábado, 17 de março de 2012

Nosso amor colorido


(Beto Takai)

Não há como entender
Se existe algo de errado
Em nossa vida, nossa pele
As cores do nosso fado

Será o eterno sim ou talvez
A fé que ficou cega, ou não
Ou pode ser por que sou Caetano
E ele é bem mais Lobão

Quero teu olhar terno
Tu tens o meu
- Não olhe o vermelho!
Ele mancha o arco-íris:
São cristãos assassinos
Que não entendem
O nosso amor ateu.

Sobre as estrelas da imaginação


(Beto Takai)

São elas que alimentam
E é luz
(estrelas)
São remédio:
Para o coração dos que amam.
Na selva:
Uma cidade do interior.
E a Lua:
O silêncio atordoante
Vai terminando
Vai nascendo, criando, morrendo
E a garota que deita no chão de estrelas
Entre sonhos e imaginação
Acorda em uma sala
Algemas, cordas e um coração.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Samba do fim de carnaval


(Beto Takai)

Entre,
Quero te ver sambar
no doce filme do carnaval;
Os pés deslizando dentro de mim
E quero sentir o batuque
Pulsando em veias, coração
Posso sair desfilando
Olhos, e tudo mais que faça brilhar.
No entando,
Não serei estrela, cor, afinal
Sem molhar os lábios na tua dança
Que é tão branda
E tão viva
Mesmo no fim do carnaval

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Entranhas


(Beto Takai)

Os dentes que mordem a maçã macia
E os dentes que mordem
Os botões da camisa
Na mesma boca e na boca minha.
Dentro de um coração
É possível encontrar o nada.
Por que ele precisa está preenchido?!
De sentimentos, desculpas, alegrias, sangue
Quando na verdade,
Nenhuma dessas coisas ocupa espaço?
São como o vento no ritmo descompassado da vida
Vem, vão, dobram, curvam, gelam, aquecem.
Eu preciso de preenchimento
Desejo ser dobrado a incerteza de sentimentos
E desejo ainda que eles durmam
Acordem
E vivam
Dento de mim

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

O Universo, eu e você


(Beto Takai)

De onde o amor nasce,
Assim tão completo?
Todos os defeitos e qualidades
Entre os olhos, a boa e os pelos.
Sinto-me como o sol
Queimando devagar cada centímetro de pele
Fazendo de nós astros sublimes da vida.
Sou como a lua
Quando estou perto de tuas estrelas,
Iluminando sombria e precisa
Cada parte do teu corpo-constelação.
Quero ser como a mamba negra
Veneno, certeiro e colossal
A adentrar nas veias
De tudo aquilo que faz destruir
Sol, Lua, corpo-constelação.
Somos o universo inteiro meu amor
Todos os anos-luz
E tudo aquilo de mais incrível
Quando minha mão e tua mão
Minha boa e tua boa
Eu e você
Eternos.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Minha luta


(Beto Takai)

Que horror! O mundo está cada vez mais porco e hipócrita. E o pior de tudo: "justificados e embasados pelo governo de Deus". Agora me fala, que Deus é esse? Que Deus é esse que permite que os seus sacerdotes explorem famílias pobres por dinheiro? Que permite que os seus líderes sentem-se em tronos de ouro e vivam em um palácio rodeado de riquezas enquanto seus fiéis vivem com menos de 2,00 (dois reais) por dia? Que relacionam-se com pessoas do mesmo sexo e vivem pregando que isso é errado? E eu posso falar isso com certeza pois por mais de várias vezes fui "cantado" por sacerdotes. Pura Hipocrisia. O estado Brasileiro é LAICO e eu como Educador, cidadão e historiador não posso jamais me calar diante de tantas calúnias e preconceitos encabeçados pelos filhos desse "deus" que eu DESCONHEÇO. Outra vez me questionaram que um governo que as experiências de governos "sem deus" como o Nazismo, o anarquismo e o socialismo foram experiências horríveis e fracassadas. Mas certamente essa pessoa esqueceu das grandes Teocracias do mundo antigo em que as pessoas sacrificavam outras pessoas e esqueceu-se também de como formou-se o Cristianismo, através de guerras e derramamento de sangue. E minha luta não vai parar enquanto eu respirar!

domingo, 6 de novembro de 2011

Intenso


(Beto Takai)

Sinto-me tão teu
Que nem sinto as pernas
Os braços
O Raciocínio.
Sou tão completamente teu
Que não existe nada
Além de tudo que é eu e vc:
Os risos,
As comidas,
A itimidade,
Son e cheiros,
(cheiro de respiração)
De pele e pêlo
De sexo e medo
De alegria e amor
Eu e você
Eternos.