quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Os fantasmas que assombram os católicos e os monstros que eles geraram




Roberto Viana de Oliveira Filho*

O objetivo desse pequeno ensaio é informar (a quem interesse ser informado) alguns aspectos da religião católica que não são bem elencados tanto por seguidores da doutrina como por quem critica as suas ações. Quero deixar claro em primeiro lugar, que de forma alguma esse texto tem a pretensão de incitar ódio ou discriminação para com os praticantes da religião supracitada, contudo, estou me valendo do direito de crítica histórica que me assiste para analisar a luz da historiografia e de fontes que tenho posse como a religião católica causou feridas, elaborou alguns remédios e criou grandes monstros para a humanidade, e vem usando essa mesma política.
O primeiro fator que gostaria de analisar é a Inquisição. É um grande tema debatido por teólogos e usado como artifício para criticar a religião. É preciso entender primeiramente que existiram “várias inquisições” e que elas agiram de formas diversas para principalmente coagir, eliminar, suprimir, desestruturar aqueles que eram contra os princípios da Cristandade. Ronaldo Vainfas em seu maravilhoso “Trópico dos Pecados: moral sexualidade e inquisição no Brasil” faz uma análise detalhada sobre a atuação da inquisição. Destaquei um trecho do seu livro que considero bastante elucidativo para compreendermos como funcionava a ‘teia do inquisidor’:

Empenhado em conter o avanço das heresias no século XIII, especialmente o catarismo no sul da França, o papa Gregório IX delegou a Domingos de Gusmão a tarefa de organizar um tribunal religioso encarregado de descobrir e inquirir os apóstratas do cristianismo, remetendo aos poderes civis a execução dos culpados de heresia. Assim nasceu a mais estruturada das Inquisições medievais, controlada pelos dominicanos, subordinada ao papado e responsável por inúmeras perseguições aos cátaros, “seguidores do livre espírito”, e a outros hereges. E nasceram, por outro lado, os modernos procedimentos judiciários calcados no segredo do processo, na institucionalização da tortura como meio de arrancar confissões, no anonimato das testemunhas, e outros mecanismos exaustivamente detalhados aos manuais de Bernardo Gui, Practica Inquisitionis, e de Nicolau Eymerich, Directorum Inquisitorum, ambos datados do século XIV. (VAINFAS, 2010, PAG. 247)

Esse trecho é muito valioso no intuito de esclarecer e rebater os argumentos de muitos religiosos que afirmar que “a inquisição não matou tantas pessoas como se costuma falar nas aulas de cursinho pré-vestibular”. Essa instituição que teve início na idade média, mas que alcançou sua força na idade moderna matou sim, milhares de pessoas. Acontece que, como elencado por Vainfas, a igreja remetia aos poderes civis a execução das penas, o chamado “braço secular”. Portando, são realmente menores os números de registros de pessoas levadas ao cadafalso nos arquivos inquisitoriais, haja vista que as penas eram executadas pelas autoridades civis.
A idade média carrega um preconceituoso estigma de “Idade das Trevas”, em contraposição ao período subsequente, um período iluminado, livre do obscurantismo causado pela mística religiosa, contudo, muitas transformações importantes da sociedade aconteceram no período; mudanças relativas à astronomia, genética, a estruturação das universidades. É importante salientar que muitas dessas mudanças ocorreram através de mentes engenhosas de padres católicos, ora, o conhecimento era proibido ou restrito aos demais.
Outro fator que me incomoda dentro da religião católica e que não é muito discutido dentro da instituição e fora dela, é aquele relativo ao machismo e ao preconceito tanto ao sexo feminino como as demais identidades de gênero: homossexualidade, lesbianeidade, travestis, etc.
Deterei-me primeiramente ao machismo, a diminuição da atuação do sexo feminino dentro da instituição. Não existe nenhum cargo de confiança organizacional que seja destinado a uma figura feminina; é impossível dentro da organização da instituição uma mulher tornar-se sacerdotisa ou que venha a ocupar cargos maiores como o de Papa. Isso revela o machismo embutido dentro da estrutura da Igreja, apesar de ter como um ícone de muita relevância a figura de Maria, é sempre enfatizado em homilias e pregações diversas o papel submisso da mulher em relação ao homem.
O movimento feminista e LGBTT vêm encontrando enorme dificuldade em lutar pelos direitos humanos de onde menos se espera: da própria igreja. Em tese, essa instituição deveria ajudar as pessoas a serem felizes e viver em paz e harmonia. Não é isso que está acontecendo. No dia 21 de dezembro de 2012, o atual papa Bento XIV (que tem um passado bastante obscuro, diga-se de passagem) convocou os católicos “à luta” contra o casamento CIVIL homossexual. Essa atitude pode gerar (já está gerando, essa não é a primeira declaração desse tipo) uma intensa onde discriminatória que não obstante gera mortes e perseguições.
O meu intuito ao elaborar esse texto é mostrar que todos nós temos o direito de crer naquilo que nos convir, contudo, quando essa crença começa a atrapalhar a vida os DIREITOS HUMANOS de outras pessoas, como a VIDA, é essencial que haja uma discussão intensa na sociedade e que esses líderes revejam a sua postura ética e moral, para que o período em que vivemos não se transforme, verdadeiramente, em uma Idade das Trevas.



* Professor de História na rede particular e pública de ensino, pesquisador registrado no Diretório Nacional de Pesquisa http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/detalheest.jsp?est=5746682686852335

sábado, 15 de setembro de 2012

Assobio

(Beto Takai)

Andei assobiando solos de guitarra por você
Sendo elétricos sons gemidos
Minha boca grudada na psicodelia do teu som
Minha vida em Dó
Nosso sexo em Fá
Curvas em wonderland
Mágica para sobrevoar

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Lixo reciclável


(Beto Takai)

Eu fico pelos quatro cantos
(todas as salas)
Dizendo lamentos
Falando sambas
Esperando a noite chegar
(sumir, dormir)
Me acho cada dia mais feio
Mais forte.
Tenho vontade
De agarrar em um meteorito
(como se passasse algum)
E ir embora para o planeta Melancolia.
E tem você: ponto de partida para o tudo
Dentro de mim
E nem preciso mais sonhar
Por que tudo de mágico
E incrível
Vivo do teu lado.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Sobre a noite estrelada



É engraçado a força que as coisas parecem ter
Quando elas precisam acontecer

Uma mesa de bar, um homem sentado, uma folha velha de caderno em suas mãos. As horas são tão quentes e tão frias a cada segundo nesse dia in-ter-mi-ná-vel. Ontem ele não dormiu bem; não que ele dormisse bem todos os dias; mas naquele dia ele teve estranhos e repetitivos sonhos com dois velhos e uma espera interminável por algo ou alguém que ele (por algum motivo) odiava. Com todas as suas forças, odiava. Acordava: água com açúcar, depois hipnóticos não-benzodiazepínicos, ainda antidepressivos sedativos. Mas nada parecia acalmar ou modificar a insistente manifestação do seu inconsciente. Foi quando às 4:30 vestiu um elegante sobretudo comprado em um brechó de Paris, lavou os olhos, partiu para o bar de sempre.
Estamos no ponto inicial: Uma mesa de bar, um homem sentado, uma folha velha de caderno em suas mãos. A folha seria para qualquer insight que por ventura ele tivesse. Era escritor. Foi quando ele olhou para o lado e reconheceu uma réplica muito convincente de “Noite Estrelada sobre o rio Rhône” de Van Gogh. Sentiu que o seu sonho e o quadro misturavam-se de forma assustadora. O casal de velhos, o rio, a espera odiosa. Sentiu que cada luz que o rio refletia era um pensamento in-ter-mi-ná-vel. Contudo, em um dado momento sentiu algo que não esperava e que não estava relacionada com o sonho ou com Van Gogh. Uma mão escorregou sobre a sua. Ouviu um sussurro: “eles também me assustam”. Olhou, sua visão saiu de foco por alguns segundos até concentrar-se na realidade dos lindos olhos cor de mel: “eu tenho ódio da espera deles”.
- Não é bom alimentar esse sentimento de ódio, homem do sobretudo.
- Estou tentando me livrar, homem dos olhos cor de mel.
Os homens sem muita demora descobriram o nome um do outro, entre tantas manchas azuis da noite estrelada, cerveja, Calcanhotto ao fundo. Conversaram entre goles, saliva, sonhos, imaginação e tudo aquilo que dois homens bonitos, interessantes poderiam dialogar. Certamente que encontram mil pontos em comum, astros, búzios, noites, tempestades, namoro: tudo entrelaçado entre a poesia e a nostalgia daquele encontro. Calcanhotto: pra quê querer saber que horas são? Se é noite ou faz calor, se estamos no verão, se o sol virá ou não... Uma moto vermelha encosta no bar, já são quase seis. A voz da mulher que desce da moto diz: “Sobe logo, não me deixa só por tanto tempo”.
O homem de sobre tudo odiava aquela mulher também, assim como odiava a pessoa da espera no quadro de Van Gogh. Os olhos cor de mel deixaram escapar uma lágrima e o barulho do cano de escape da moto misturava-se com os soluços da boca cor de romã, dos olhos cor de mel.
O sol desponta e não há mais motivo para usar um sobretudo. O que antes era coberto por um tecido de cor indecifrável, dava espaço a um corpo belo. Não esse belo de horas dedicadas à academias e produtos light, mas uma beleza que traduzia os primeiros suspiros da manhã: leveza, orvalho, lágrimas, bocejo. O corpo guardava marcas da noite anterior. Quem era aquela mulher? Por que os olhos cor de mel verteram lágrimas? Onde estava a força do homem de sobretudo que deixou aquela boca sair aos soluços sem provar o provável gosto doce/ácido dos seus lábios? Era um enigma que preenchia o seu corpo matutino e que parecia durar.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Pele de maresia

(Beto Takai)

de tentar tocar, ou tatear
me perco em tuas curvas.
elas me cegam 
entre pensamentos duvidosos
e a ressaca do amanhecer.
não deixe que morra na praia
a força do mar, 
que é limpa, grande, formosa
a lua que com seu movimento traz
a força para te tatear, tocar.



domingo, 10 de junho de 2012

Quem


(Beto Takai)

Quem fala com a alma, canta
E de cada canto uma cor
Tudo preenche: olhos, lágrimas, corpo, suor
Quem tem energia, dança
E de cada perna um risco
Nenhum barulho: mágica, roupa, gosto
Quem vem e vai, anda
E de cada estrela, um abraço
Deixa cair a luz: ascender, ir, voltar
Quem faz poema não rima, seduz
E de cada pensamento, tesão
Entre linhas e tinta: orgasmo, letra, solidão

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Dois "Josés"

(Beto Takai)

Somos dois Josés aqui, ali, acolá
Sem tinta nem pincel colorirmos
O mar de nosso suor
E de nossas poucas lágrimas.
Josés em cada esquina, rua bar
Olhos nos olhos, as vezes não.
Também humanos somos nós Josés
Amamos, fazemos amor-sexo, bobagem
Ser um José, ser dois
A vida inteira, todas as cores
Nessa estrada infinita.

domingo, 6 de maio de 2012

Entre nós. (Pontes)


(Beto Takai)

Entre, o tempo espera por nós:
Pode se acomodar no cimento do chão
Na madeira dos móveis
No perfume da comida
E das minhas roupas.
Entre eu e você:
Um céu e um mar de medos e ameaças.
Mas o que importa?
Existe uma ponte entre esses encalços:
O Amor.!?..
As pernas são firmes e andam em par
Um passo, outro, um tropeço.
Eu não sei se você sabe
Mas queria que entendesse
Que essa cratera fica maior
A distância também
E os olhos mareados de lágrimas
Cada centímetro
Uma queda.

sábado, 17 de março de 2012

Nosso amor colorido


(Beto Takai)

Não há como entender
Se existe algo de errado
Em nossa vida, nossa pele
As cores do nosso fado

Será o eterno sim ou talvez
A fé que ficou cega, ou não
Ou pode ser por que sou Caetano
E ele é bem mais Lobão

Quero teu olhar terno
Tu tens o meu
- Não olhe o vermelho!
Ele mancha o arco-íris:
São cristãos assassinos
Que não entendem
O nosso amor ateu.

Sobre as estrelas da imaginação


(Beto Takai)

São elas que alimentam
E é luz
(estrelas)
São remédio:
Para o coração dos que amam.
Na selva:
Uma cidade do interior.
E a Lua:
O silêncio atordoante
Vai terminando
Vai nascendo, criando, morrendo
E a garota que deita no chão de estrelas
Entre sonhos e imaginação
Acorda em uma sala
Algemas, cordas e um coração.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Samba do fim de carnaval


(Beto Takai)

Entre,
Quero te ver sambar
no doce filme do carnaval;
Os pés deslizando dentro de mim
E quero sentir o batuque
Pulsando em veias, coração
Posso sair desfilando
Olhos, e tudo mais que faça brilhar.
No entando,
Não serei estrela, cor, afinal
Sem molhar os lábios na tua dança
Que é tão branda
E tão viva
Mesmo no fim do carnaval

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Entranhas


(Beto Takai)

Os dentes que mordem a maçã macia
E os dentes que mordem
Os botões da camisa
Na mesma boca e na boca minha.
Dentro de um coração
É possível encontrar o nada.
Por que ele precisa está preenchido?!
De sentimentos, desculpas, alegrias, sangue
Quando na verdade,
Nenhuma dessas coisas ocupa espaço?
São como o vento no ritmo descompassado da vida
Vem, vão, dobram, curvam, gelam, aquecem.
Eu preciso de preenchimento
Desejo ser dobrado a incerteza de sentimentos
E desejo ainda que eles durmam
Acordem
E vivam
Dento de mim